quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vou ali ser feliz e [e nem sei se] volto.

Ontem chorei...

Por tudo que fomos.

Por tudo o que não conseguimos ser.

Por tudo que se perdeu.

Por termos nos perdido.

Pelo que queríamos que fosse e não foi.

Pela renúncia.

Por valores não dados.

Por erros cometidos.

Acertos não comemorados.

Palavras dissipadas.

Versos brancos.

Chorei pela guerra cotidiana.

Pelas tentativas de sobrevivência.

Pelos apelos de paz não atendidos.

Pelo amor derramado.

Pelo amor ofendido e aprisionado.

Pelo amor perdido.

Pelo respeito empoeirado em cima da estante.

Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa.

Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.

Pela culpa.

Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa.

Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia.

Chorei.

Apronto agora os meus pés na estrada.

Ponho-me a caminhar sob sol e vento.

Vou ali ser feliz e já volto.

Caio Fernado Abreu

Um comentário:

  1. Muito lindo esse poema, perfeito.
    Quantas vezes não choramos, choramos ao pensar ser esse o fim do mundo.. daí dormimos e acordamos e com o passar do tempo, vemos então como bobos fomos de achar que tudo havia se acabado naquele momento.. Depois choramos de novo e novamente acreditamos dessa vez ser pior que as outras.. e assim vivemos, se não encontrarmos a estrada de sermos felizes viveremos com o choro sem saber que ele tem motivos bobos a desmoronar.

    Beeijos ;*

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